Geral
Caso Gulliver: justiça e mea culpa
01/11/2007
Foto: autor desconhecido.
Impressiona como a Paraíba não consegue se livrar do clima odiento oriundo do século passado, lá em 1930, com mortes e perseguições, agora repostos sem crime físico é verdade , mas com desejos de destroçamento entre pessoas e grupos tal qual se deu naquela fase nefasta de nossa história.
O Caso Gulliver, de lamentável contexto envolvendo o deputado federal Ronaldo Cunha Lima e o ex-governador Tarcisio Burity, voltou à baila na fase moderna de nossa história eivada, mais do que de busca de justiça, por ódio distribuído por quem não faz tempo vivia de juras de amor sentimento agora provado como inconsistente.
Antes deste grave episódio, a Paraíba já se via, volta e meia, em crise braba. Para não ir muito longe, me fixo no tempo anterior ao Gulliver quando os ex-governadores Wilson Braga e Tarcisio Burity soltavam pelas rádios e notas de jornais acusações somente assimiladas em tempo de cangaço. Veio o tempo e eles se superaram, se toleraram dentro dos limites da civilidade.
Volto ao tema porque ando extremamente preocupado com o nível do tratamento em que as coisas e as vidas vêm sendo tratados na Paraíba, muito além do atentado de dezembro de 1993.
Insisto: o Caso Gulliver repõe muito mais a busca desenfreada da chama da vingança ignorando até gestos dados pelo próprio ex-governador Burity em vida de arrefecimento dos ânimos gerando tolerância, tanto que abandonou a banca advogatícia fazendo o sério processo correr à revelia dele, a vítima.
Verdade seja dita , a viúva Glauce Burity nunca embarcou nesse clima de superação que o ex-governador sinalizou no fim de sua vida ao afirmar que entregava o caso à justiça de Deus. É direito dela, de quem partilhou os momentos de grande dor familiar. Mesmo assim, Burity pode até não ter perdoado explicitamente, mas exceto na fase seguinte ao atentado, na etapa derradeira não reproduziu o tom de vindita na direção de Ronaldo.
Houve até quem tenha forçado uma cena para o pedido formal de perdão, que Ronaldo só não o fez cara a cara, pessoalmente, porque Burity não sabia como reagiria naquele momento já de debilidade coronariana, sobretudo, diante de um ex-aliado e então desafeto – preso a uma condição de limite humano reproduzido no convívio com a sentença da cadeira de rodas.
Mas do que essa, que outra dor poderia ser tamanha quanto a marca do acaso. Seria esse aspecto o sentido arrefecido do tom ameno final de Burity?
Acrescente-se, ainda, que não houvesse, como há atualmente, um aguçamento da crise política pelo Poder na Paraíba entre o grupo do governador Cássio Cunha Lima que busca manter-se no cargo, e do senador José Maranhão, no caminho oposto de querer assumir a governadoria, além da crise entre grandes setores da midia, certamente que este mesmo processo de trato nacional agora, na Paraíba não passaria de meros registros ocasionais, como se deu durante muito tempo.
O problema é que, uma outra grave crise se acentuou entre o Sistema Correio de Comunicação e a Rede Paraíba de Televisão por este ultimo ter exposto amplamente dados do processo existente na justiça contra o empresário Roberto Cavalcanti e diretores, aliada à busca do suplente de senador de ascender ao Senado com a posse de Maranhão tudo isso num só liquidificador terminou servindo de principal tempero para o aguçamento do que hoje vemos produzido pelo Caso Gulliver.
Isso é tanto verdade que basta recorrer aos arquivos de jornais para perceber que, quando não havia crise política nem confronto entre grandes empresas da midia e o governo, o assunto (Gulliver) sempre foi tratado de forma abafada, minimizada, mesmo nas horas mais difíceis do sofrimento de Burity.
Ora, se agora o assunto vem à baila com a tentativa de cor de sangue exposta, certamente que tal condição nunca se efetivará como elemento basilar da justiça, mas de outros interesses onde tudo é possível, inclusive ter pessoas justas e de bem servindo de massa de manobra ou de outros interesses.
Como observador atento, muito antes de dezembro de 1993 data do caso Gulliver entendo a renuncia de Ronaldo como uma manobra para evitar condenação na próxima semana, a partir do agendamento proposto pelo STF.
Mesmo assim, imagino que a transferência processual para o Tribunal de Justiça pode até apresentar fatos novos, como poderá ser ter Ronaldo num júri, mas justiça como a que Burity disse ter deixado a cargo divino, esta só não vê quem não quer, exceto no caso dos doutos ministros tomados inteiramente pelas letras da justiça dos homens total reclamada pela sociedade.
Os dois (Ronaldo e Burity) não mereciam o que muitos sentem de desconforto, nem muito menos o que tantos buscam construir para impedir que saiamos de 1930 revolução do ódio que até hoje nos atrasa.
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